sábado, 9 de março de 2013

MOMENTOS MÁGICOS, ONTEM E HOJE


Foram três semanas extremamente carregadas de atividades, que culminaram com o preenchimento do Relatório de Atividades Docentes (prazo-limite no dia 08/03) e com a atualização do Currículo Lattes (para o relatório trienal da CAPES). Entremeadas a estas atividades, ocorreram ainda aulas na Graduação e na Pós-Graduação, seleção de Mestrado e de Doutorado do PPGSD, seleção de Mestrado no PPGJA, orientações de dissertações e teses, bancas de dissertações e de teses, reuniões dos Grupos de Pesquisas nos quais estou inserido. Ah, e existem os compromissos familiares, não menos significativos e exigentes de tempo.
Enfim, chego neste dia 09 de março exausto, mas gasto um pouco do meu tempo e da minha energia hoje para registrar dois momentos especiais ocorridos no último dia 01 de março.

Momento 01: A primeira defesa de tese do PSGSD da UFF
Neste dia aconteceu a primeira defesa de tese do doutorado do Curso de Ciências Jurídicas e Sociais (popularmente conhecido como PPGSD ou “Sociologia e Direito”), levada a cabo pelo aluno Eder Fernandes Monica, sob minha orientação. O referido discente fez um ótimo trabalho, que ganha maior relevância se levarmos em conta que ele, por questões de foro pessoal, decidiu escrever e defender sua tese cumprindo o prazo mínimo definido pela CAPES (dois anos) e não utilizou os quatro anos dos quais a maioria dos discentes doutorandos se vale para concluir seu Curso.
Para dar conta desta empreitada, Eder sacrificou horas de sono e de lazer, canalizando grande parte do seu tempo ao longo dos últimos dois anos, especialmente nos seis meses que antecederam a defesa, para a construção da tese. E eu, enquanto orientador, também enfrentei o “rescaldo” desta situação (rssss), com um acompanhamento bastante intenso ao longo do processo.
O coroamento desta caminhada se deu com a Banca Examinadora, formada pelos professores doutores Luís Antonio Cunha Ribeiro, Luiz Antonio da Silva Peixoto, Gustavo da Silveira Siqueira e Marcus Fabiano Gonçalves. Estes grandes professores e pesquisadores deram um show de competência, cada uma abordando sob uma ótica o tema da tese e apresentando questionamentos, observações, que foram assimiladas, respondidas e saboreadas; sim, este é o termo: saboreadas; pois na origem da palavra conhecimento está o sentido de informação (sapere), mas também de sabor (sapore). Todos os professores foram brilhantes, mas a intervenção do colega Marcus Fabiano foi digna de uma Aula Magna em qualquer Universidade do mundo.
A platéia que compareceu e acompanhou as quase cinco horas do ritual da defesa teve a oportunidade de testemunhar um momento raro, especial na vida de uma Universidade, que retrata o significado maior da Academia enquanto produtora de conhecimento crítico sobre, com e para a sociedade. Quem lá esteve vivenciou um momento ímpar e certamente saiu sabendo qual é a diferença entre uma Universidade e um “colegião”, destes que comercializam cursos e certificados como se estivessem vendendo fast food. Fizemos história na Universidade Federal Fluminense no último 01 de março de 2013; fizemos Universidade.

Momento 2: 28 anos de Magistério
Em 01 de março último, no anonimato e na discrição que uma data destas tem na vida pública, posto que seja lembrada somente pelo seu protagonista, comemorei 28 anos de magistério, sendo 27 anos de magistério superior.
Em 01 de março do distante ano de 1985, um jovem idealista de 19 anos de idade (completei 20 anos alguns dias depois deste fato), começou a lecionar OSPB, História e Religião, no Colégio Marista de Passo Fundo, para alunos de 7ª e 8ª séries do 1º e para alunos do 2º Grau.
Lembro-me que, no primeiro dia de aula, cheguei tenso, mão fria e úmida, boca e garganta secas, corpo totalmente aceso, como se estivesse prestes a um combate. Eu havia passado os três meses antecedentes preparando todas as aulas, com dedicação de quase 8 horas diárias; as duas semanas que antecederam a estréia foram dedicadas a ensaio na frente do espelho, a revisão de cada detalhe, para que tudo transcorresse bem. Mas a noite anterior foi passada sem dormir, tamanha a tensão e expectativa: e se os alunos não gostassem de mim e do meu jeito de ministrar aulas? E se fizessem uma pergunta que eu não soubesse responder? E se eu esquecesse algum conceito que devia abordar na aula? Enfim, estreei e deu tudo certo! E a coisa fluiu tão bem que surgiu, no ano seguinte, o convite para lecionar na Universidade de Passo Fundo, onde havia me formado.
Para dar conta das aulas na Universidade, deixei de lecionar no Colégio Marista, trocando às trinta horas em sala de aula por dezesseis horas na UPF. E eu ficava os horários nos quais não estava em sala de aula estudando e preparando as aulas para cumprir bem o meu papel.
Coincidência ou não, em 01 de março de 1986, com vinte anos, comecei minha jornada de professor universitário, lecionando Metodologia Científica e Introdução à Filosofia para diversos Cursos da Universidade. Embora com a pouca experiência de magistério do ano anterior, igualmente a adrenalina se fez presente na estréia e nos meses que se sucederam. O cenário era outro, pois encontrava em alguns Cursos pessoas inclusive bem mais velhas e experientes que eu. Como manter a atenção e o interesse deles naquilo que eu trabalhava? Como fazer com que um jovem que mal havia entrado no Curso de Agronomia e que queria fazer análise de solo e aprender técnicas de manejo agrícola pudesse se voltar, ao menos por duas horas na semana, para discutir filosofia ou para aprender as normas da ABNT (contidas na ementa de Metodologia Científica)? E essa dúvida me acompanhava também na Educação Física, na Geografia, na Engenharia Mecânica, na Enfermagem, na Medicina, cursos para quem eu lecionei nos primeiros semestres.
Eu, que havia sido seminarista e que, ao deixar a trajetória rumo ao sacerdócio, por acaso, me vi guindado à situação de professor, mantendo minhas despesas com isso, pensava naquele momento: eu não estou preparado para entrar, nos próximos trinta anos, e lecionar sempre o mesmo conteúdo, repetindo a mesma ementa, de forma burocrática. Comecei a cogitar, nas primeiras semanas de aula, a possibilidade de arrumar outro emprego e investir noutra carreira.
Todavia, passado cerca de um mês de aula, lembro-me de estar lecionando a disciplina de Introdução à Filosofia no Curso de Educação Física quando, ao trabalhar alguns conceitos ligados ao existencialismo (angústia, consciência, vida e morte, etc.) fiz alguns comentários e percebi que, ao fundo da sala, uma aluna começou a chorar discretamente. Conversei com ela ao final e ela me agradeceu porque falei coisas que a levaram a compreender melhor uma dada situação existencial pela qual passava e que a angustiava. Não recordo o nome dela, talvez fosse Rosa (parafraseando Humberto Eco em “O nome da rosa”), mas devo boa parte do que sou a este momento por ela protagonizado, pois foi a partir deste momento que descobri o encanto disso que faço e que me apaixonei pelo que faço.
Nestes anos todos, ainda que a ementa fosse a mesma, jamais ministrei a mesma aula; pois as pessoas para as quais ministrei as disciplinas eram diferentes, tinham dúvidas, expectativas, concepções, vivências distintas. E eu me apercebi que esta coisa chamada magistério é mágica, pois nós mexemos com a sensibilidade, com as emoções, com o humor das pessoas, e somos marcados por elas de igual maneira. E lá se vão 28 anos desde a primeira vez!
De lá para cá me aperfeiçoei, estudei, aprendi, acertei e errei, mas vivi intensamente o que escolhi como profissão e, mais do que isso, abracei como projeto de vida.
A defesa do Eder é um importante capítulo nesta minha caminhada, momento mágico numa trajetória nem sempre fácil ou compreendida. Que bom que pude estar presente e testemunhar a conquista de mais um grande pesquisador, de alguém que parece também ter decidido abraçar o magistério e que começa a consolidar a própria caminhada enquanto docente universitário.
Um dia 01 de março e dois momentos mágicos na vida de um gaúcho, gremista e livre pensador. Obrigado a todos aqueles e aquelas que tornaram possíveis estes dois momentos mágicos em minha existência.

2 comentários:

  1. Gilvan, vc é exemplo para nossa vida!
    obrigada por permitir nossa caminhada pautada pelos seus conselhos e lições!
    um abraço
    Giselle Picorelli

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  2. Parabéns pelos anos de magistério, Gilvan, e obrigado por ter me permitido partilhar os belos momentos dessa banca.
    Grande Abraço,
    Luís

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