Foram três
semanas extremamente carregadas de atividades, que culminaram com o
preenchimento do Relatório de Atividades Docentes (prazo-limite no dia 08/03) e
com a atualização do Currículo Lattes (para o relatório trienal da CAPES). Entremeadas
a estas atividades, ocorreram ainda aulas na Graduação e na Pós-Graduação,
seleção de Mestrado e de Doutorado do PPGSD, seleção de Mestrado no PPGJA,
orientações de dissertações e teses, bancas de dissertações e de teses,
reuniões dos Grupos de Pesquisas nos quais estou inserido. Ah, e existem os
compromissos familiares, não menos significativos e exigentes de tempo.
Enfim, chego neste
dia 09 de março exausto, mas gasto um pouco do meu tempo e da minha energia
hoje para registrar dois momentos especiais ocorridos no último dia 01 de
março.
Momento 01: A primeira defesa de tese do PSGSD da UFF
Neste dia
aconteceu a primeira defesa de tese do doutorado do Curso de Ciências Jurídicas
e Sociais (popularmente conhecido como PPGSD ou “Sociologia e Direito”), levada
a cabo pelo aluno Eder Fernandes Monica, sob minha orientação. O referido
discente fez um ótimo trabalho, que ganha maior relevância se levarmos em conta
que ele, por questões de foro pessoal, decidiu escrever e defender sua tese
cumprindo o prazo mínimo definido pela CAPES (dois anos) e não utilizou os quatro
anos dos quais a maioria dos discentes doutorandos se vale para concluir seu
Curso.
Para dar conta
desta empreitada, Eder sacrificou horas de sono e de lazer, canalizando grande
parte do seu tempo ao longo dos últimos dois anos, especialmente nos seis meses
que antecederam a defesa, para a construção da tese. E eu, enquanto orientador,
também enfrentei o “rescaldo” desta situação (rssss), com um acompanhamento
bastante intenso ao longo do processo.
O coroamento
desta caminhada se deu com a Banca Examinadora, formada pelos professores
doutores Luís Antonio Cunha Ribeiro, Luiz Antonio da Silva Peixoto, Gustavo da Silveira
Siqueira e Marcus Fabiano Gonçalves. Estes grandes professores e pesquisadores
deram um show de competência, cada uma abordando sob uma ótica o tema da tese e
apresentando questionamentos, observações, que foram assimiladas, respondidas e
saboreadas; sim, este é o termo: saboreadas; pois na origem da palavra conhecimento
está o sentido de informação (sapere),
mas também de sabor (sapore). Todos
os professores foram brilhantes, mas a intervenção do colega Marcus Fabiano foi
digna de uma Aula Magna em qualquer Universidade do mundo.
A platéia que
compareceu e acompanhou as quase cinco horas do ritual da defesa teve a
oportunidade de testemunhar um momento raro, especial na vida de uma Universidade,
que retrata o significado maior da Academia enquanto produtora de conhecimento
crítico sobre, com e para a sociedade. Quem lá esteve vivenciou um momento
ímpar e certamente saiu sabendo qual é a diferença entre uma Universidade e um “colegião”,
destes que comercializam cursos e certificados como se estivessem vendendo fast food. Fizemos história na
Universidade Federal Fluminense no último 01 de março de 2013; fizemos
Universidade.
Momento 2: 28 anos de Magistério
Em 01 de março
último, no anonimato e na discrição que uma data destas tem na vida pública, posto
que seja lembrada somente pelo seu protagonista, comemorei 28 anos de
magistério, sendo 27 anos de magistério superior.
Em 01 de março
do distante ano de 1985, um jovem idealista de 19 anos de idade (completei 20
anos alguns dias depois deste fato), começou a lecionar OSPB, História e
Religião, no Colégio Marista de Passo Fundo, para alunos de 7ª e 8ª séries do 1º
e para alunos do 2º Grau.
Lembro-me que,
no primeiro dia de aula, cheguei tenso, mão fria e úmida, boca e garganta
secas, corpo totalmente aceso, como se estivesse prestes a um combate. Eu havia
passado os três meses antecedentes preparando todas as aulas, com dedicação de
quase 8 horas diárias; as duas semanas que antecederam a estréia foram
dedicadas a ensaio na frente do espelho, a revisão de cada detalhe, para que
tudo transcorresse bem. Mas a noite anterior foi passada sem dormir, tamanha a
tensão e expectativa: e se os alunos não gostassem de mim e do meu jeito de
ministrar aulas? E se fizessem uma pergunta que eu não soubesse responder? E se
eu esquecesse algum conceito que devia abordar na aula? Enfim, estreei e deu
tudo certo! E a coisa fluiu tão bem que surgiu, no ano seguinte, o convite para
lecionar na Universidade de Passo Fundo, onde havia me formado.
Para dar conta
das aulas na Universidade, deixei de lecionar no Colégio Marista, trocando às
trinta horas em sala de aula por dezesseis horas na UPF. E eu ficava os
horários nos quais não estava em sala de aula estudando e preparando as aulas para
cumprir bem o meu papel.
Coincidência ou
não, em 01 de março de 1986, com vinte anos, comecei minha jornada de professor
universitário, lecionando Metodologia Científica e Introdução à Filosofia para
diversos Cursos da Universidade. Embora com a pouca experiência de magistério
do ano anterior, igualmente a adrenalina se fez presente na estréia e nos meses
que se sucederam. O cenário era outro, pois encontrava em alguns Cursos pessoas
inclusive bem mais velhas e experientes que eu. Como manter a atenção e o
interesse deles naquilo que eu trabalhava? Como fazer com que um jovem que mal
havia entrado no Curso de Agronomia e que queria fazer análise de solo e
aprender técnicas de manejo agrícola pudesse se voltar, ao menos por duas horas
na semana, para discutir filosofia ou para aprender as normas da ABNT (contidas
na ementa de Metodologia Científica)? E essa dúvida me acompanhava também na
Educação Física, na Geografia, na Engenharia Mecânica, na Enfermagem, na
Medicina, cursos para quem eu lecionei nos primeiros semestres.
Eu, que havia
sido seminarista e que, ao deixar a trajetória rumo ao sacerdócio, por acaso,
me vi guindado à situação de professor, mantendo minhas despesas com isso,
pensava naquele momento: eu não estou preparado para entrar, nos próximos trinta
anos, e lecionar sempre o mesmo conteúdo, repetindo a mesma ementa, de forma
burocrática. Comecei a cogitar, nas primeiras semanas de aula, a possibilidade
de arrumar outro emprego e investir noutra carreira.
Todavia, passado
cerca de um mês de aula, lembro-me de estar lecionando a disciplina de Introdução
à Filosofia no Curso de Educação Física quando, ao trabalhar alguns conceitos
ligados ao existencialismo (angústia, consciência, vida e morte, etc.) fiz
alguns comentários e percebi que, ao fundo da sala, uma aluna começou a chorar
discretamente. Conversei com ela ao final e ela me agradeceu porque falei
coisas que a levaram a compreender melhor uma dada situação existencial pela
qual passava e que a angustiava. Não recordo o nome dela, talvez fosse Rosa
(parafraseando Humberto Eco em “O nome da rosa”), mas devo boa parte do que sou
a este momento por ela protagonizado, pois foi a partir deste momento que
descobri o encanto disso que faço e que me apaixonei pelo que faço.
Nestes anos
todos, ainda que a ementa fosse a mesma, jamais ministrei a mesma aula; pois as
pessoas para as quais ministrei as disciplinas eram diferentes, tinham dúvidas,
expectativas, concepções, vivências distintas. E eu me apercebi que esta coisa
chamada magistério é mágica, pois nós mexemos com a sensibilidade, com as
emoções, com o humor das pessoas, e somos marcados por elas de igual maneira. E
lá se vão 28 anos desde a primeira vez!
De lá para cá me
aperfeiçoei, estudei, aprendi, acertei e errei, mas vivi intensamente o que
escolhi como profissão e, mais do que isso, abracei como projeto de vida.
A defesa do Eder
é um importante capítulo nesta minha caminhada, momento mágico numa trajetória
nem sempre fácil ou compreendida. Que bom que pude estar presente e testemunhar
a conquista de mais um grande pesquisador, de alguém que parece também ter
decidido abraçar o magistério e que começa a consolidar a própria caminhada
enquanto docente universitário.
Um dia 01 de março e
dois momentos mágicos na vida de um gaúcho, gremista e livre pensador. Obrigado
a todos aqueles e aquelas que tornaram possíveis estes dois momentos mágicos em
minha existência.
Gilvan, vc é exemplo para nossa vida!
ResponderExcluirobrigada por permitir nossa caminhada pautada pelos seus conselhos e lições!
um abraço
Giselle Picorelli
Parabéns pelos anos de magistério, Gilvan, e obrigado por ter me permitido partilhar os belos momentos dessa banca.
ResponderExcluirGrande Abraço,
Luís