sexta-feira, 25 de maio de 2012

Cansaço, por quê?

Olá, estive bem ausente deste veículo de comunicação. Tive que priorizar oito capítulos de livros e as demais atividades neste tempo. Todavia, nada mais apropriado para retomar o contato com algo que retrata o nosso zeitgeist (espírito do tempo).

CANSAÇO
(Fernando Pessoa)

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...


POR QUÊ?
(Autor desconhecido)

E do cansaço se fez a dor,
E dela o lamento, o sustento, o fundamento,
De quem vê com melancolia e desencanto
A frivolidade e a leviandade virarem canto
E os rompantes de vazio e mediocridade, verdade.

Deitar no chão, encolhido e quieto ficar
Proteger-se na própria solidão e mergulhar,
Num mudo e ruidoso repousar.
Mudar o mundo!? Pra quê!? Quem quer!?
Quixote de um mundo sem Dulcinéias.

Tensão que corrói o espírito
Em que o fato é e a cegueira impera
Onde as estrelas deixaram de guiar os viajantes
E os sonhos são relíquias de museus,
Pois consumir é preciso, viver não.

Por que não desistir? Por que não se entregar?
Se o gado e o rebanho querem tablets e não liberdade.
Por que não morrer, se caminhamos mesmo para o abismo,
Conduzidos por pastores, políticos e tecnocratas?
Por que continuar, se não há um aonde ir?

Se a caixa de Pandora se rompeu, onde está a esperança?
A esperança se escondeu no cansaço e na melancolia,
E no riso largo e no desdém que deles brota,
Na palavra, no olhar, na escuta, no argumento, na razão, no sentimento, na utopia,
De quem ainda não morreu, porque continua a perguntar: Por quê?